quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

As faces da fome

Tenho reservas quanto a mensagens veiculadas na Internet. Diariamente somos assomados por inúmeras matérias, às vezes acompanhadas de vídeos dos mais diversos sites, que nos contam desde córneas lançadas ao lixo por hospitais, por falta de pacientes, até plantas que curam o câncer. Popular programa de TV veicula “pegadinhas” com políticos, a quem gostaria de recusar-me designar de “politicalhos”. Entre estes, parlamentares que assinam projetos de lei cujo conteúdo desconhecem e não lêem; outro vídeo, sobre políticos que criticam a segurança pública, quando nem ao menos souberam indicar num mapa do Brasil a localização do Estado de Pernambuco. Uns o situaram no norte, entre Amazonas e Pará, outros na Região Sudeste. Frise-se a tempo: não foram poucos e não foi Tiririca.
            A fome degrada não só os alimentandos, também os alimentados. Como dizia Tancredo Neves, enquanto houver uma criança com fome, uma sociedade não tem o direito de apresentar-se de cabeça erguida no cenário internacional. Deixemos para lá, entretanto, citações idealistas, para, voltando à realidade, encararmos que a solução da falta de alimento não ser tão simples quanto parece (assim como a educação básica, o saneamento básico, a segurança, etc.) Crianças famintas são, de fato, um espetáculo cruel. Representam, entretanto, apenas a face mais visível de uma realidade que tem suas raízes em mentes bem mais perversas.
            Ao passarmos uma procuração em branco aos nossos “dignos” parlamentares, através do voto, o mínimo que podemos esperar é que saibam onde ficam os estados que dizem representar. Se ainda e apesar disso estivessem preocupados em erradicar a fome, até estes “escorregões” seriam suportáveis, na medida em que, erradicada esta, estaria se enchendo de comida o prato de algum brasileiro, independente deste morar em Pernambuco, no Amapá ou no extremo do Rio Grande do Sul.
            O aspecto mais deplorável da fome é a fome por cargos. Neste instante, nem bem iniciado o mandato da presidenta, digladiam-se os arcaicos caciques em busca das posições que lhes garantam poder pelo poder, estrutura e recursos para perpetuar suas (re) eleições, num teatro macabro que infelizmente têm como expoente máximo, o saudoso e idealista MDB, hoje PMDB, embora ele não seja exceção.
Enquanto não lermos com atenção o nome do outorgado na procuração chamada “voto” e nem os “poderes” que estes esfaimados têm, certamente esta fome de poder há de ser aquela a ser saciada por primeiro, ficando a grande massa de manobra dos brasileiros “favorecidos” por cestas, em segundo plano. Ah, esses nossos obtusos representantes! Ah, triste PMDB! Aguardemos 2014, 2018, 2022...

Roberto Curt Dopheide, advogado, Rua 15 de novembro, 678/205, Blumenau  (47) 88516182



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