quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O QUE SONHARAM ESSAS CRIANÇAS?

Ainda que o tilintar dos sinos já não soe em nossos ouvidos com o encanto
de épocas passadas e, talvez, ouçamo-lo mais pelos ouvidos de nossos filhos
ou netos que pelos nossos próprios ouvidos, é chegado o Natal.

Ainda que saibamos que datas e eventos são apenas convenções humanas,
elas estão arraigadas em nosso subconsciente e no Natal somos tomados
por aquele ar de caridade, de desejo ardente de paz, do querer mais profundo
de harmonia entre os homens de boa vontade... e como gostaríamos que mais
homens tivessem mais boa vontade!

A época de Natal é como um bálsamo, um querer acreditar que este
mundo agora, ou no ano vindouro, ou, vá lá, daqui a alguns anos, ressurja
com mais amor, amizade, ética e alegria. O bálsamo do Natal é como o
bálsamo de lágrimas que muitas vezes choramos escondidos, ou em pensamento:
tentamos evita-las, mas depois de terem rolado pelas nossas faces,
carregam consigo nossas mágoas. Um desejo incontido de perdoar aos
outros pelas suas falhas e de sermos perdoados pelos nossos próprios erros nos invade.

2010, como 2009, como 2008, não terá passado sem trazer a cada um,
ao lado de bons momentos, também alguns problemas e sofrimentos.
A uns com maior rigor, a outros de forma mais amena, o destino
trouxe provações das quais queríamos escapar. Quantas vezes dirigimos
os olhos aos céus para pedir que a doença não fosse grave, que o acidente
não tivesse acontecido, que a dívida fosse menor, que a dor não fosse tanta!
Ainda que soe a consolo barato, continuamos vivos, privilegiados pelo
convívio de amigos, com farto jantar, linda decoração, músicas...  e a dor
que ontem era tanta já parece menor! Mais: na maioria das vezes nos
ensinou a prosseguir pela curta jornada da vida ainda mais fortes e valorosos,
apesar das rugas indisfarçáveis, das cicatrizes irremovíveis, das perdas
irreparáveis, das ofensas engolidas, da ingratidão suportada.

A cada Natal revisamos nossos conceitos, conscientizamo-nos do insondável
sentido da vida que, como o pote de ouro ao final do arco-íris, queremos crer
que exista e buscamos incessantemente, sem nunca alcançá-lo. Ele não existe,
pois estejamos com 20 ou com 100 anos, compreendemos que tal qual
a conquista do cume pelo montanhista, não é o cume em si que vale,
mas a subida, o trajeto, a caminhada...

Lamentamos às vezes que alguns dos desejos da vida não tenham sido atingidos,
sem entender que é por isso que a vida continua... não ter mais com o que sonhar,
ainda que sejam sonhos pequeninos, é quase como ter morrido sem partir.

E se é dessa forma que o espírito natalino nos faz refletir, cercados por
entes queridos, comida, música e amizades valorosas, reflitamos também
sobre o que as crianças sonham. Não as nossas crianças, geralmente
cercadas de condições de educação e vida que lhes possibilitará um futuro digno,
mas aquelas dos morros, das vielas, dos antros, dos países em guerra,
das vítimas de cataclismas, epidemias, fome e sede.

Não podemos consertar o mundo, mas não precisamos esquecer que existe
sempre um pedaço do nosso pão, do nosso tempo e do nosso coração
para entregar aos sonhos desses pequeninos.

Que as experiências vividas que a contragosto nos endurecem, não nos endureçam
ao ponto de fazer com que os sonhos dessas crianças não sobrevivam.
Que não morra nelas a esperança de um futuro e de um mundo melhor.
Seria uma tragédia!

Que o tilintar dos sinos afrouxe nossos corações, nos brinde com generosidade
constante, ainda que pouca, por todo o ano de 2011 e que apesar das
provações que passamos, saibamos que ainda vivemos num mundo privilegiado
que milhões nunca verão.

Natal, além de tempo de festa é tempo de reflexão. Temos muito, em comparação
à maioria: dinheiro, amigos, carreira, felicidade, No entanto, à medida que
cada um de nós desce a montanha que tão arduamente subiu, percebe que
tudo nos foi tão somente emprestado e os que nos sucedem o receberão,
também, emprestado! Ajudar aos outros é ajudar a si mesmo, é mostrar
o que nos distingue dos animais, é mostrar a chama que arde em nossa alma,
plantada por um sopro superior e inexplicável.

Que possamos permear o sonho dessas crianças com a doçura que o Natal nos trás.
Não podemos consertar o mundo, mas a tentativa é válida.
Que reine em nossas famílias, neste Natal e Ano Novo o espírito de
companheirismo, solidariedade humana e generosidade com o próximo!

Aos sonhos dessas crianças e a todos nós, um recíproco Feliz Natal e Ano Novo!

ROBERTO CURT DOPHEIDE
ADVOGADO
(47) 8851-6182

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